Ajudando a desencalhar a baleia (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)
Do Rio de Janeiro (RJ) a Salvador (BA) – Depois de mais alguns acertos no barco, segui sozinho para o Rio de Janeiro. Lá encontrei o Rafa, que iria me acompanhar até Salvador. Na travessia Rio-Búzios deu pra sentir qual seria o tom da viajem até o destino. Vento e corrente contra e muitos problemas técnicos, principalmente com o motor que parava de funcionar religiosamente após 10 horas de uso. Os filtros de combustível ficavam impregnados de uma borra fedorenta que entupia tudo e fazia o motor parar por falta de combustível.
Ao chegar a Búzios, tentamos consertar o problema. Trocamos os filtros e o pescador e mais uma vez e xingamos muito a qualidade do combustível brasileiro. Não funcionou. Continuaríamos tendo problemas até nossa chegada em Salvador, quando o mistério do combustível sujo seria finalmente solucionado com o auxilio da minha filha Marina, de apenas dois anos de idade.
Problemas – Passados alguns dias em Búzios, levantamos âncora e seguimos viajem para Vitória. Na travessia do cabo de São Tome, o vento de 20 a 27 nós vinha da proa e o mar com ondas grandes e desencontradas fazia nossa travessia muito desconfortável. Para piorar ainda mais a situação, uma pane elétrica fez parar de funcionar nosso GPS, piloto automático e cartas de navegação eletrônicas (chart ploter). O Rafa e eu nos revezávamos no leme do Bravo até que três dias depois, num estado deplorável e sem motor, chegamos na cidade de Vitória.
Ao entrar no porto, o vento parou e como estávamos sem motor, passamos por momentos de tensão ao tentar desviar dos bancos de areia e do trânsito de navios que passam por ali. Em Vitória encontramos com o Jadir, que vinha trazendo um Petterson 33 a reboque desde o Caribe numa das viagens mais doidas que eu já tive notícia. Lá também limpamos o tanque de combustível e entramos em contato (pelo telefone) com um técnico da Raymarine, que me ajudou restabelecer o GPS e o piloto automático.
Seguimos viajem para Abrolhos onde ficamos três dias e ajudamos a desencalhar uma baleia morta de mais, de 15 metros, que empesteava a ilha de Santa Bárbara, local onde ficam hospedados os funcionários da marinha e do IBAMA.
Chovia torrencialmente e fazia frio em Abrolhos. A baleia estava encostada nas pedras, o Rafa e eu estávamos num bote e um oficial da marinha e um funcionário do IBAMA estavam em outro bote. Embaixo da baleia podíamos ver alguns tubarões grandes, que já haviam deixado marcas da sua arcada no rabo do cetáceo apodrecido.
Só conseguimos retirar a baleia de lá graças a ajuda de alguns pescadores, que apesar dos tubarões, mergulharam na água para amarrar o rabo do animal num longo cabo que teve a outra extremidade amarrada no barco de pesca. Assim conseguimos arrastá-la para alto mar.
Destino final – Saímos de Abrolhos e rumamos para Salvador, e algumas horas depois da nossa partida o motor parou novamente. O vento forte acabou rasgando parte da genoa (vela que fica na frente). Tínhamos que trocar a vela imediatamente, pois se a deixássemos ali ela iria virar um farrapo. O vento forte não facilitava as coisas e no processo acabei machucando o olho, que foi atingido por uma das escotas da vela.
Entramos na Bahia num dia ensolarado, com um vento forte e mar liso, numa linda navegada. Paramos o Bravo na Marina em frente ao elevador Lacerda e fomos para a churrascaria. Final da primeira etapa, o Rafa desembarcava em Salvador!
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure