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Waldemar Niclevicz é pego por uma avalanche, mas está bem; outras 12 pessoas chegam ao cume do Annapurna

Redação Webventure/ Montanhismo

O corredor  trecho mais perigoso da rota alemã  seguida pelo brasileiro (foto: Divulgação)
O corredor trecho mais perigoso da rota alemã seguida pelo brasileiro (foto: Divulgação)

O brasileiro Waldemar Niclevicz narra como foi pego por uma avalanche, na descida para o acampamento-base do Annapurna, montanha no Himalaia que ele tenta o cume. Outras 12 pessoas conseguiram chegar ao seu topo, incluindo a brasileira Cléo Weidlich.

“Estimados amigos!

Hoje seria o dia em que eu havia previsto chegar ao cume do Annapurna, baseado em várias previsões meteorológicas e no planejamento de Dawa e de sua equipe.

No dia 16 iniciei esse provável ataque, chegando junto com Dawa ao acampamento 1 (5.100 metros de altitude). Ele e sua equipe continuaram até o acampamento 2 deles, a 5.500 metros.

No dia seguinte, Carlos Soria e Tente deixaram o acampamento-base e seguiram até o acampamento a 5.500 metro, e eu fui até o meu acampamento 2, situado um pouco acima, a 5.700 metros.

Dawa, que me havia afirmado 100% que chegaria ao cume, seguiu até os 6.450 metros, onde passou uma noite difícil. Nevou bastante e depois o vento destruiu uma de suas barracas. Eles tiveram que passar a noite com sete pessoas em apenas uma barraca.

No dia 18, o tempo continuava animando todos, com manhã de céu azul. Assim todos continuaram subindo. Fomos até os 6.500 metros, onde montamos nosso acampamento 3. A equipe de Dawa, após uma noite mal dormida, progrediu apenas até os 6.600 metros (verdadeiro local do acampamento 3).

Começou a nevar forte depois das 17 horas e, lá pelas 20 horas, uma avalanche soterrou nosso acampamento 3. Ainda nevava forte, gritos na escuridão, todos assustados, alguns sem botas sobre a neve. Pasang e Zhangmu, meus dois sherpas, pediam para eu sair da barraca, mas fiquei suportando com as costas a lateral da barraca, superpesada com o peso da neve. Eu gritava insistentemente para que eles tirassem o excesso da neve com a pá, assim continuaríamos tendo um abrigo para dormir.

A barraca dos sherpas e de Carlos Soria ficou totalmente sepultada. Eles desmontaram a barraca onde estava Soria e Tente, remontaram em um lugar melhor e dormiram os seis apertados.

Na manhã seguinte, Dawa e sua equipe seguiram rumo ao acampamento 4, que deveria ser montado a 7.400 metros. Mas, devido ao excesso de neve, eles montaram suas barracas por volta dos 7.000 metros.

Eu e todos os demais que estávamos no acampamento a 6.500 metros começamos a nos movimentar logo ao amanhecer. Depois da noite tumultuada, a decisão era unânime: descer para o acampamento-base. Naquela mesma situação ainda estava um casal de mexicanos, um canadense, um espanhol, uma espanhola e um casal de iranianos.

Carlos Soria, Tente, eu e nossos seis sherpas descemos primeiro. Logo antes de chegarmos no corredor (veja foto ao lado), tivemos que reequipar a via, pois parte das cordas fixas tinham sido levadas por uma avalanche.

Depois desse trecho, saímos da parede e tivemos que abrir caminho até o acampamento 2. Era incrível a quantidade de neve, facilmente nos afundávamos até o joelho, em razão da nevada do dia anterior.

Continuamos descendo e, em plena Meseta do Annapurna (grande platô que existe entre o acampamento 1 e 2, a 5.200 metros), uma gigantesca avalanche veio descendo em nossa direção. Começamos a correr, quando percebi que não ia adiantar, procurei um lugar para me proteger, me atirando no chão atrás de uma pequena elevação. A avalanche me envolveu com força.
Com as mãos, protegi a boca e o nariz e respirei rápido e sem parar. Fui sentindo pedaços de neve e gelo me golpearem. Aquilo durou uma eternidade, pelo menos mais de um minuto. O spray da avalanche foi se dissipando, alguns cortes e arranhões no rosto e nas mãos, todos assustados, mas bem.

Descemos então para o nosso único e verdadeiro refúgio aqui no Annapurna, o acampamento-base. Talvez esse tenha sido o único dia que não nevou desde que chegamos por aqui. O entardecer foi tranquilo, a noite quieta, sem vento.

Hoje a manhã foi daquelas inacreditáveis, absolutamente nenhuma nuvem, nada de vento. O Annapurna despontava num céu absolutamente azul e lá, nas alturas mais elevadas, Dawa e sua equipe progrediam rumo ao seu cume.

Eles haviam deixado o acampamento 4 por volta das 20 horas e chegaram no alto dos 8.091 metros do Annapurna por volta das 10 da manhã. Dawa, seus quatro sherpas, a brasileira Cléo Weidlich, dois chineses, dois indianos e seus dois sherpas, num total de 12 pessoas, todos usando garrafas de oxigênio.

Parabéns a todos! Espero que a descida deles seja tranquila e sem contratempos. Detalhes apenas eles poderão nos contar, quando retornarem ao acampamento-base.

Assim é a montanha, sempre impondo a sua grandeza. E assim segue o homem, sempre buscando coragem para enfrentá-la. Uma simples decisão pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, a vida e a morte. Que Deus continue me dando consciência para tomar as decisões corretas.

Namastê!

Waldemar Niclevicz”

Este texto foi escrito por: Da Redação

Last modified: abril 20, 2012

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